segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Vidro

Na prateleira de cristais, em algum lugar no mundo de vidro, vivem as pessoas engarrafadas.

Em alguma loja de cristais do mundo de vidro, vez por outra, deixam a janela aberta e um bando de pássaros entra, voa entre as prateleiras, derruba e quebra garrafas.
As pessoas tiram os cacos, cortam as mãos, sangram, mas se libertam.

No mundo de vidro, pessoas que só vêem diabinhos dentro da garrafa trocam janelas por vidraças, os pássaros não entram mais, o bando esbarra e tomba.

Nas prateleiras da loja de cristais do mundo de vidro, algumas pessoas se acomodam dentro de suas garrafas, outras ficam presas no gargalo.

Em algum lugar do mundo de vidro, numa loja de cristais, pessoas engarrafadas torcem que a bola de um menino acerte a vitrine, um bando de gente reza por um voo certeiro e rasante de um pássaro doido.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Giratório

Todos os dias ocupa lugar na cadeira luxuosa. Ordena e desordena.
Faz sombra na vida alheia, como uma nuvem que soberba e desdenhosamente, julga a quem conceder lugar ao sol.
Há muito já não toca o chão, a cadeira é alta e os pés curtos.
Voou alto, chegou ao topo, pousou sozinho.
Permanecerá até o dia em que souber que a vida é uma eterna dança de cadeiras, essa luxuosa que ocupa alto e giratório alçapão de pessoas.
Um dia terá vontade de ser de novo apenas uma folha rodopiando ao vento.





sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Tétris - o jogo da vida




Na amizade, no amor ou no trabalho, é um jogo.
Quando as emoções não se encaixam nas lacunas, o muro cresce.

A gente vai tentando aprender a jogar, já jogando, tentando mover os blocos perfeitamente pra se encaixar na família, no grupo de amigos, no trabalho, ser bem sucedido.

A gente vai juntando, torcendo pelos tijolos trincados, tentando preencher várias linhas ao mesmo tempo, querendo ganhar muitos pontos pra ser feliz.

Se a vida tivesse sobrenome, poderia ser tétris - uma corrida contra o tempo, esse lance de descobrir quase instintivamente, onde se encaixa. Mas a vida também poderia se chamar quebra cabeça, xadrez, tiro ao alvo, arco e flecha.

Quando as emoções não se encaixam e o muro cresce, a gente precisa aprender a voar e pousar suave, porque nem tudo se resolve com força e marreta.